Pesquisa, que cruzou dados de preservação ambiental com registros de patrimônio histórico, expõe a vulnerabilidade do acervo nacional
Arthur Barciela pimenta,João Pedro Luna Sanches Santos e Patryk Nachpitz Wowczyk.Fonte:veja.abril.com.br
Em: 29/04/2025

Pinturas rupestres ameaçadas
imagem: freeway
Um estudo divulgado esta semana pelo MapBiomas revela que 122 sítios
arqueológicos brasileiros estão localizados em áreas que sofreram desmatamento
entre 2019 e 2024. A pesquisa, que cruzou dados de preservação ambiental com
registros de patrimônio histórico, expõe a vulnerabilidade do acervo
arqueológico nacional diante do avanço do desmatamento em diversos biomas.
De acordo com o levantamento, os sítios arqueológicos afetados
distribuem-se principalmente entre a Caatinga (29), a Mata Atlântica (31) e a
Amazônia (17). O estudo demonstra que o patrimônio histórico e cultural
brasileiro está diretamente ameaçado pela degradação ambiental, com impactos
potencialmente irreversíveis para a preservação da memória nacional.
“O cruzamento desses dados permite evitar que o processo recente de
ocupação humana cause danos ou destrua a história contida nesses espaços”,
afirma Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. Ele ressalta que os
resultados já revelam padrões preocupantes sobre os vetores desse desmatamento.
A análise
aponta que aproximadamente dois terços dos sítios arqueológicos afetados – 79
no total – encontram-se em áreas desmatadas para expansão da fronteira
agrícola. O estudo também identificou um fenômeno regional significativo: “No
Rio Grande do Norte, estão 13 dos 19 sítios arqueológicos em alertas de
desmatamento relacionados à expansão de projetos de energias sustentáveis, como
usinas solares ou eólicas”, detalha Rosa.
Ameaças ao patrimônio
O paradoxo identificado pelos pesquisadores é que mesmo iniciativas
consideradas ambientalmente sustentáveis, como a geração de energia renovável,
podem representar ameaças ao patrimônio arqueológico quando implementadas sem o
devido planejamento e fiscalização.
A cientista Marina Hirota, professora da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e colaboradora do estudo, enfatiza a
necessidade de ações imediatas. “O crescimento de atividades antrópicas ao
redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do
patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões
sobre os biomas”, alerta a pesquisadora.
O Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pela catalogação
e proteção dos sítios arqueológicos, manifestou preocupação com os resultados
do estudo. Em nota, o órgão informou que está intensificando as ações de
fiscalização nas áreas identificadas como críticas e que trabalha na
atualização do Sistema Nacional de Patrimônio Arqueológico para integrar
alertas de desmatamento.
Especialistas em
arqueologia consultados pela reportagem destacam que cada sítio destruído
representa uma perda irreparável de informações sobre a ocupação humana no
território brasileiro, algumas datando de milhares de anos. Artefatos, pinturas
rupestres e vestígios que poderiam ajudar a compreender civilizações
pré-colombianas estão sendo perdidos antes mesmo de serem adequadamente
estudados.
Mais grave
O estudo do MapBiomas
também avalia que a situação pode ser ainda mais grave, já que muitos sítios
arqueológicos no Brasil ainda não foram oficialmente catalogados. Estimativas
conservadoras sugerem que menos de 30% do potencial arqueológico nacional está
devidamente identificado e registrado.
A pesquisa recomenda
a criação de “zonas de amortecimento” ao redor dos sítios arqueológicos
conhecidos, com restrições mais severas contra o desmatamento. Também propõe a
intensificação de parcerias entre órgãos ambientais e culturais para alinhar
esforços de conservação.
Preservar esses
sítios não é apenas uma questão cultural, mas também ambiental. Geralmente,
áreas de importância arqueológica coincidem com ecossistemas sensíveis e de
alta biodiversidade”, explica Hirota, ressaltando a interconexão entre
patrimônio histórico e natural.
O relatório será
encaminhado aos ministérios do Meio Ambiente e da Cultura, com recomendação
para a inclusão dos sítios arqueológicos nos sistemas de monitoramento
ambiental já existentes, como o Deter e o Prodes, operados pelo Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
(Com Agência Brasil)
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Pinturas rupestres ameaçadas imagem: freeway |
Um estudo divulgado esta semana pelo MapBiomas revela que 122 sítios
arqueológicos brasileiros estão localizados em áreas que sofreram desmatamento
entre 2019 e 2024. A pesquisa, que cruzou dados de preservação ambiental com
registros de patrimônio histórico, expõe a vulnerabilidade do acervo
arqueológico nacional diante do avanço do desmatamento em diversos biomas.
De acordo com o levantamento, os sítios arqueológicos afetados
distribuem-se principalmente entre a Caatinga (29), a Mata Atlântica (31) e a
Amazônia (17). O estudo demonstra que o patrimônio histórico e cultural
brasileiro está diretamente ameaçado pela degradação ambiental, com impactos
potencialmente irreversíveis para a preservação da memória nacional.
“O cruzamento desses dados permite evitar que o processo recente de
ocupação humana cause danos ou destrua a história contida nesses espaços”,
afirma Marcos Rosa, coordenador técnico do MapBiomas. Ele ressalta que os
resultados já revelam padrões preocupantes sobre os vetores desse desmatamento.
A análise
aponta que aproximadamente dois terços dos sítios arqueológicos afetados – 79
no total – encontram-se em áreas desmatadas para expansão da fronteira
agrícola. O estudo também identificou um fenômeno regional significativo: “No
Rio Grande do Norte, estão 13 dos 19 sítios arqueológicos em alertas de
desmatamento relacionados à expansão de projetos de energias sustentáveis, como
usinas solares ou eólicas”, detalha Rosa.
A cientista Marina Hirota, professora da Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e colaboradora do estudo, enfatiza a
necessidade de ações imediatas. “O crescimento de atividades antrópicas ao
redor dos sítios reforça a importância de políticas de conservação e gestão do
patrimônio arqueológico brasileiro, especialmente frente às crescentes pressões
sobre os biomas”, alerta a pesquisadora.
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